Jubileu 2025: Estamos À Espera de Quê?
O verbo «esperar» proveio do latim «sperare», derivado de «spes» e tem como derivados, em português, «espera» e «esperança».
Lembram-se da famosa peça teatral de Samuel Beckett, na qual dois homens esperam um amigo que não se sabe se existe porque “nunca aparece”? Às vezes parece que estamos ‘À espera de Godot’. Talvez devessemos ter em conta alguns sinais.
Num inquérito feito em 2021, com o patrocínio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, parte da população juvenil entre os 15 e os 34 anos foi desafiada a falar sobre as suas “esperanças”. O questionário concluiu que não obstante ser a geração mais preparada de sempre, “para quem o ir estudar foi a porta de garantia de um futuro seguro”, hoje perdeu essa segurança. Temos uma quantidade enorme de jovens que se preparam, fazem a sua formação e depois não têm garantido nem um trabalho certo na área em que se prepararam, nem trabalho em geral. Trata-se de “uma geração que tem vivido uma grande instabilidade”, “crescido em contextos de sucessivas crises” e cujos seus membros “olham para o futuro com insegurança”. Hoje, esta nova geração não só se sente insegura no presente, como se sente insegura quando olha para o futuro. Um em cada três jovens deste estudo diz que, se calhar, vai imigrar à procura de melhores condições, de outro futuro, e que, hoje, os jovens procuram segurança no trabalho, mas assusta-os a ideia de ter sempre o mesmo trabalho. Os jovens, na sua maioria, não obstante gostassem de sair “mais cedo da casa dos pais”, sentem-se “novos demais” para tomar certas decisões, Sem casa própria, muitas vezes sem emprego, muitas vezes às apalpadelas e sem saber para onde ir, a idade média para a decisão de ter o primeiro filho “supera largamente os 30 anos”.
Existem dados e sinais bastante preocupantes nesta geração que indicam uma saúde mental, cada vez mais, frágil. Em 2019 a segunda causa de morte em Portugal para a população jovem, depois dos acidentes de viação, foi o suicídio. Os estudos mostram que um em cada quatro jovens já pensou suicidar-se.
No célebre livro intitulado “A sociedade do cansaço”, o filósofo Byung-Chul Han procura perceber porque é que tantos vivem hoje com doença mental, problema que, segundo o autor, reside no facto de a sociedade atual valorizar as pessoas em função daquilo que produzem. Hoje já não somos encorajados a parar, mas, pelo contrário, somos estimulados à hiperatividade. O resultado disso é uma degradação da nossa saúde mental. Não é por acaso que tantos jovens hoje têm dificuldade e adiam decisões em relação ao futuro. Porque, inconscientemente, não querem ser adultos assim: o mundo de hoje anseia por “descanso”.
Verifica-se também alteração das “expetativas” de “heróis”. O americano Steve Turner, numa obra intitulada “A Teologia da Cultura Pop”, constata que antigamente os “heróis” estavam nos altares laterais das igrejas e que hoje se encontram nos ecrãs: podemos concluir que a sociedade de hoje também anseia por “messias”.
Algumas propostas que outros jovens, “convocados pelo Fórum Económico Mundial”, apresentaram para a saída da crise pandémica do Covid-19: Repensar a maneira como consumimos; a democratização do acesso à internet; a urgência da educação para a literacia digital; incentivar à democracia, à participação de todos, especialmente dos jovens; uma rede de cuidados de saúde mental; uma tolerância zero para os abusos ambientais; a necessidade de políticas de regulação dos gigantes tecnológicos; uma rede global de acesso a cuidados de saúde básicos; e mecanismos de segurança pública com “menos armas”. Estas, algumas das sugestões apresentadas.
Considerando o que fica dito, devemos tentar eliminar qualquer pretexto que possa levar os jovens a imaginar o seu futuro sem esperança.
Porque às vezes parece que estamos à espera do Godot; porque também temos sonhos de justiça; porque também temos sonhos de futuro; porque também precisamos de descanso; porque às vezes também pedimos a ajuda de heróis; e porque, de certa maneira, suspiramos por transcendência é que pensamos que o Papa Francisco fez muito bem em convidar-nos para um jubileu de esperança. Para quê um jubileu de esperança? Porque, tudo somado, é disso que estamos à espera.
[Dados recolhidos a partir de informação do jornal Folha de Domingo]
Um Bom 2025!