Estimados Irmãos e Irmãs,
Estando nós a chegar, em breve, ao final do Advento, preparamo-nos para celebrar o Natal do Senhor. Não obstante, destacaríamos, como ponto de partida da nossa mensagem natalícia, uma das figuras centrais deste tempo litúrgico: João Batista.
O papel central de João na História de Salvação gira em torno do anúncio do Messias libertador que vem ao encontro do seu povo, para libertá-lo do jugo a que estava submetido. Mas não é isso, sobretudo, que se pretende evidenciar neste momento, mas sim, o seu amor à verdade. João amou a verdade até ao fim. E não hesitou em fazer frente ao poder instituído na sua época por amor à verdade, mesmo pagando o preço da sua própria vida. João teve a coragem e a ousadia de mostrar a Herodes qual era o seu pecado, por isso, Herodes temia-o. E Herodes, como homem grande em poder, mas pequeno em verdade, vai usar a armas dos fracos e mentecaptos: silenciar a verdade através da tirania, roubando a vida a João.
Anos antes, o pai deste rei, de infeliz memória, tentara fazer exatamente a mesma coisa, mas contra a inocência de um bebé, Jesus. A pequenez e a humildade de Jesus contrastavam com o bojo e tirania de Herodes, e este, não suportou isso. Não suportava ver-se ultrapassado por uma criança, nascida num pequeno vilarejo perdido no meio do nada. Por isso, porque ele se sentia incomodado com a grandeza daquele pequeno Rei – o autêntico rei, descendente de David – tentou silenciar a verdade. Herodes, indevidamente cognominado pela História de: “o grande”, não suportava a ideia de que, o pretendente ao trono, fosse um pequeno e frágil bebé. Por isso, assustado ante a pergunta dos reis magos, que tinham vindo para adorar o Menino e não a ele, perguntou aos sacerdotes – homens religiosos e conhecedores das Escrituras naquele tempo – “Onde deverá nascer o Messias”. E daquele encontro entre o poder político, o poder religioso e as potências estrangeiras que haviam vindo, guiadas por uma estrela, em busca dessa luz da verdade, nasce a hipócrita resposta de Herodes: “Quando o encontrardes, dizei-mo, para que também eu vá e o adore…”
Quem conhece um pouco da História dos Judeus narrada por Josefo, sabe perfeitamente que Herodes era tudo menos condescendente… além de tirano, era cruel. Por isso, Herodes cognominado “o grande”, manifestou a sua pequenez ao querer silenciar a verdade, massacrando os inocentes com menos de dois anos para baixo, na região de Belém e arredores.
Estimados irmãos e irmãs, estamos em época de pandemias… E note-se que falo no plural e não no singular. Herodes padecia de algumas: o vírus do ódio; o vírus da hipocrisia; o vírus da tirania e o vírus do medo. Infelizmente, para estes vírus, não existe uma suposta “vacina” que mitigue os sintomas ou supra o contágio… Por isso, desde há dois mil anos, estes “vírus” têm continuado a espalhar-se e a contagiar outros rostos e outros atores:
O vírus do ódio tem continuado a contagiar corações frios como aquela noite do primeiro Natal. Se bem que muitas vezes, esse ódio, nos tempos que correm, é manifesto através de regimes opressores que são aplaudidos por muitos e cujas atrocidades convenientemente silenciadas por outros. Sim, Herodes não se autocognominou: “o Grande”, mas alguém teve de chamá-lo assim: provavelmente os meios de comunicação da época comprados ou acolitados por algum partido único…
O vírus da hipocrisia também tem feito surgir inúmeras baixas, porque este, é o “vírus” mais perigoso, uma vez que se encontra camuflado sob a capa do bem. De tal forma o vírus da hipocrisia é perigoso, que, em algumas vezes, faz ecoar a palavra “Amor” – o que nos poderá aquecer muito o coração – quando, na verdade, quer antes dizer: “Interesses comuns”. Quantas vezes não ouvimos falar ou não lemos nós sobre “casamentos por interesse”? E é porque os nubentes se amam? Não, é porque existe um interesse comum. Qual a vítima do vírus da hipocrisia? A Verdade… uma verdade que é silenciada em nome de um “bem maior”. Por isso Herodes tentou silenciar Aquele que mais tarde viria a dizer: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por Mim” ainda que haja neste mundo quem pense que sim…
Infelizmente, e para este “vírus”, existe um “passaporte sanitário”: basta começar a ser-se hipócrita com os hipócritas, partilhando as mesmas ideias e discursos hipócritas que os hipócritas partilham, e virando-se o rosto para o lado, afim de não se ver as evidências e as baixas que a hipocrisia provoca.
Mas o “vírus da hipocrisia” está suportado por um outro “vírus” igualmente mortífero: o da tirania. Por vezes, estes dois vírus confundem-se: um ajuda o outro. E quando o vírus da hipocrisia não funciona, vem o vírus da tirania em toda a sua sanha, como se da alta temperatura de uma febre se tratasse. Por isso, Herodes, que era um homem poderoso neste mundo, quando se apercebeu que os Magos não haviam regressado a Jerusalém, mandou matar os inocentes, isto é, o vírus da hipocrisia deu lugar ao da tirania. Infelizmente, na contemporaneidade, estes vírus continuam a trabalhar em comum: Quando não se obtêm os objetivos agendados através do vírus da hipocrisia, não se deixará de conseguir atingi-los através do da tirania: oprime-se quem pensa de maneira divergente; discrimina-se em nome do “Amor” e do “Bem Comum”, proscreve-se quem é diferente em nome da “igualdade”.
Vem, por fim, um outro vírus: o do medo. O vírus do medo é a arma dos fracos. Por ser tirano, Herodes sabia como incutir o medo ao ponto de ficar conhecido para a posteridade pelo medo que provocava. Exemplo disso narra Macrobius, um poeta e autor pagão do século IVº da nossa Era, ao escrever que César, ao saber que Herodes havia mandado matar um dos seus próprios filhos, disse: “Antes ser-se porco de Herodes do que seu filho…”. Sim, irmãos e irmãs, o medo domina e controla. Faz-nos tomar decisões que, em nenhuma outra circunstância, racionalmente, não tomaríamos; faz-nos abdicar daquelas liberdades que, em nenhum outro momento delas abdicaríamos; faz-nos deixar de lado aquela liberdade primordial com a qual a Humanidade foi criada: a da filiação divina, pois onde entra o medo, não entra a liberdade nem a confiança em Deus, e o nosso próprio medo, torna-se o nosso “deus”.
E vós vos podeis perguntar: “Mas não existe nenhuma vacina para todos estes vírus”? A resposta é: “Existe”. E não só existe, como também pode curar todos estes vírus. Foi gerada numa gruta em Belém, há dois mil anos. E esta “vacina”, realmente salva, cura e imuniza:
Salva, porque realmente liberta o ser humano de todas as formas de escravidão;
Cura, porque sara todas as mazelas provocadas pelos “vírus” acima mencionados;
Imuniza, porque nos impede de ser contagiados novamente por qualquer um dos vírus, e de nos roubar a vida eterna;
Por isso, os “Herodes de hoje”, hipocritamente tentam silenciar a verdade incómoda sobre esta “vacina”, porque lhes convém que o “vírus do medo”, tiranicamente, continue a exercer o seu domínio, para atingir os seus interesses pessoais, e a luz da estrela da verdade surgida em Belém, deixe de espargir o seu brilho na noite escura das nossas vidas, para substituí-la por falsas “luzes criadas” por mãos humanas cujo brilho são apenas trevas.
Termino a minha mensagem tal e como a comecei: falando de João. João Batista, vacinou-se com a “vacina de Jesus” e por isso, não podia silenciar a verdade que brilhava no seu coração, embora o próprio João “não fosse a luz” do mundo. Por isso, exorto-vos caros paroquianos e paroquianas, a que, a partir deste Natal, também nós nos vacinemos com essa mesma vacina, gerada no presépio de Belém, e criemos uma “imunidade de grupo”, como Igreja, contra os vírus do ódio, da hipocrisia, da tirania, e o do medo, que desde tempos recentes têm grassado em toda a Humanidade.
Que este Jesus, que é a única Luz do Mundo, brilhe nos vossos lares, e que este Natal não seja mais um “Natal”, mas o Natal em que Aquele que é a verdadeira Salvação e Cura faça derramar a Sua bênção sobre as nossas vidas e as nossas famílias. Um Santo e Feliz Natal para todos, e um próspero ano de 2022.