MERGULHANDO NO GÉNESIS (1):
No primeiro capítulo do Génesis encontramos:
No princípio começou Elohim a criar os Céus e a Terra” (Génesis 1,1) O verbo אר ָ ָב não traduz propriamente uma acção concluída, por isso, pode-se traduzir por “Criou” mas também – segundo cremos, como tradução mais correcta neste ponto em concreto – “começou a criar” os Céus e a Terra.
Ao longo dos seis dias da Criação, Elohim (Deus) desenvolve a sua acção criadora: Cria o mundo, enche de vida a Terra, as verduras, os mares, os animais do campo, tudo é obra da acção criadora de Deus.
O corolário da Criação é marcado novamente pelo verbo “Barah”, ainda que seja usado noutras circunstâncias:“E criou Elohim o homem na Sua própria imagem: Na imagem de Elohim, Ele criou-os; homem e mulher
Ele os criou.” (Génesis 1,27). Na criação do ser humano vemos o verbo barah ser utilizado três vezes.
Vejamos abeleza destas palavras: “E criou Elohim o homem na Sua própria imagem” isto é, o “Homem” =
Humanidade. A Humanidade é imagem de Deus; “Na imagem de Elohim, Ele criou-os;” isto é, Elohim é o “Modelo” e nós, homens e mulheres, somos imagem de Deus. “Homem e Mulher Ele os criou.” Só por aqui, temos algo de inédito: Homem e Mulher são “imagem e semelhança de Deus”. Não é só o Homem… Não é só a Mulher. E deixa alguns mandamentos: “… sede frutíferos, e multiplicai e enchei a Terra e subjugai e tende domínio sobre os peixes do mar e sobre as aves dos Céus e sobre toda a criatura vivente que se move na Terra.” ́(Cf. Génesis 1,28). E o ser humano é dotado do livre arbítrio. Eva disse à serpente: “Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Elohim disse: Dele
não comereis, nele não tocareis, sob pena de morte.” (Génesis 3,3). Está ante a primeira humanidade o livre-arbítrio e o primeiro mandamento negativo. “Não comer da árvore.” E a serpente, por sua vez, faz com que
a Humanidade coma do fruto. A serpente argumentou: “Não, não morrereis! Mas Elohim sabe que, no dia em que comerdes dele, os vossos olhos abrir-se-ão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal.” (Cf.Génesis 3, 4-5).
E eles comeram. Adão e Eva, que antes estavam nús (Cf. Génesis 2,25) e não se envergonhavam, agora, abriram-se-lhes os olhos, perceberam que estavam nús e entrelaçaram folhas de figueira para se cingir (Cf.
Génesis 3,7).
A História destes primeiros capítulos do Génesis dão-nos uma grande lição: Homem e Mulher são criados iguais em dignidade, em direitos e em deveres. Ambos são “imagem e semelhança de Deus” ou seja, em Deus, existe um olhar paternal e um olhar maternal. Porém, Homem e Mulher são chamados a ser Um só, ou como dizem as Escrituras: ֶדח
ֶָֽ ָ א רש ָ֥ ָ ָבְל וּי ָ֖ ָהְו “Vehaiu levasar echad”(… e eles tornar-se-ão uma só carne.) (Cf. Génesis 2,24). E, assim como Deus é (Echad= Um), Homem e Mulher são chamados a ser Um. Isto é, a Unidade do Amor é Divina e a origem do chamamento ao Amor é Divina.
Porém, Deus criou-nos com livre-arbítrio, simbolizado na liberdade que Deus concede em comer todas as árvores do Paraíso, mas proibindo de comer uma, a que estava no centro do Jardim. O Ser Humano, ao usar
mal o seu livre-arbítiro, sofre as consequências do mau uso do mesmo e, como consequência imediata, perde a consciência de inocência original que, somente Jesus, bem mais tarde vem repôr: “…se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos céus.” (Cf. Mateus 18,3). Por isso, antes de cedermos aos meros impulsos, pensemos seriamente no que fazemos e que, em todas as decisões da nossa vida há o Caminho do Bem e o Caminho do Mal. Adão e Eva reconheceram que estavam nús, isto é,
perderam a sua inocência original.
A outra consequência do mau uso do nosso Livre-arbítrio, é a “expulsão do Paraíso” ou seja, a perda da possibilidade de estar constantemente na presença de Deus, ou, por outras palavras, cair da Graça da Deus.
O Homem também foi posto por Deus a dar o nome aos animais (Cf. Génesis 2,20). O Dar o Nome na Sagrada Escritura, é uma acção extremamente importante, pois dar o nome implica “ter posse sobre.” Ao dar o nome aos animais, o Ser Humano é chamado a governar e a ter posse sobre a criação da Terra. Porém, devemos perceber que a Criação não é nossa, é de Deus, ainda que nos sejamos os “gerentes”. Assim, não podemos nem devemos agir depoticamente sobre a Criação mas, ao contrário, estimá-la e amá-la, com a plena consciência que, em parte nós também “recebemos o nome” da parte de Deus. Desta feita, também nós
compartilhamos espaço e natureza com o resto da Criação: existe também em nós uma dimensão material e animal. É ela que nós faz querer alimentar-nos, reproduzir-nos, dormir. Estes são alguns dos instintos que ainda partilhamos com o resto da natureza criada por Deus. Porém, não somos somente instintos, somos filhos e filhas de Deus. Por isso, apesar de “expulsos do Paraíso” Deus não nos eliminou, porque nos ama: Deus ama a sua criatura, criada à sua “imagem e semelhança”. Nós, corolários da criação divina, somos os únicos que possuem imagem e semelhança com Deus.
Que grandes lições devo tirar daqui para a minha vida?
Ama a Deus que te criou à sua imagem e semelhança, independentemente se és homem ou mulher.
Ele criou-te igual em dignidade, direitos e deveres, não sendo um objeto do outro nem sua “propriedade”.
No amor verdadeiro entre um casal, Deus está presente, pois aqui se antevê que a natureza de Deus é Amor que se entrega sem nada esperar em troca.
Usa bem o livre-arbítrio que Deus te concedeu. Pensa que tudo podes – como diz S. Paulo – mas nem tudo te convém.
Lembra-te que tu és parte da Criação de Deus e que Deus tem um projecto para ti. Em ti, existe também a animalidade racional, que te faz ser parte integrante do ecossitema em que te movimentas.
Não és só espírito, és também corpo, carne.
Não deixes de querer regressar a essa pureza original que existia antes do pecado dos nossos primeiros pais. Lá mais para diante, perceberás como poder regressar novamente a esse estado.
Convido-te a ler dois textos:
. João 4,24;
. 1 João 4,8.
Pergunta:
– Quais são os atributos de Deus?
Miguel Ângelo Pereira