Caros Paroquianos e Paroquianas,
O sabío Hilel, Mestre Judeu quase coevo de Jesus dizia: «É lícito violar um Shabbat para guardar muitos outros.» Ao que o nosso Mestre e Senhor Jesus acrescentava: «O Shabbat foi feito para o homem e não o homem para o Shabbat.»

Duros são estes tempos que vivemos, sobretudo no contexto desta pandemia global de COVID-19 a qual manifestamente afectou a vida das pessoas bem como, infelizmente, ja reclamou várias vidas. Para nós, Cristãos Católicos, torna-se tão mais duro, sobretudo quando estamos privados, físicamente, do Pão da Vida, mas não do Pão da Palavra.

Alguém dizia: «Toda a moeda tem duas faces.» E também neste contexto de Quarentena, somos chamados a viver a nossa Quaresma. Se fomos privados da expressão física de Jesus glorioso – o Pão Eucarístico – não devemos privarmo-nos de, através dos meios disponíveis, privarmo-nos da Pão da Palavra; se estamos tristes porque, fisicamente não nos encontramos em Comunidade Paroquial, não deixemos de espiritualmente, estar unidos aos nossos irmãos na Fé. Nós estamos de Quarentena, mas Jesus não está. Jesus vem e virá sempre à nossa vida, sempre que O chamemos.

Por outro lado… Este é o tempo das “igrejas domésticas”. Este é o tempo de, em casa, e em família, rezar. Neste tempo em que jejuamos de “Jesus, Pão da Vida”, não jejuemos da oração familiar! Pelo contrário, este deve ser tempo de re-encontro com Deus, conosco e com a família. A Igreja Católica encontra-se unida, em cada Diocese, à pessoa do bispo Diocesano como sinal inequívoco de unidade e, nesse sentido, mesmo fechados em casa, continuamos a ser igreja.

É tempo de rezar também pelas vítimas e pelas famílias das vítimas deste surto pandémico. É tempo de rezar pela família dos donos daquela mercearia que costumávamos visitar mas que agora, teve de fechar portas. É tempo de rezar pelos empregados e famílias daquele restaurante onde passámos momentos bons mas que agora têm as portas fechadas. Sabe Deus as consequências deste Vírus. É tempo de jejum… É tempo de jejuar de tudo aquilo que é menos bom na nossa vida e pedirmos a Deus perdão das nossas faltas. E, mesmo na ausência de um Confessor, coloquemo-nos diante de Deus – Ele que é rico em misericórdia – e peçamos perdão. “Sacrifício agradável a Deus é um espírito arrependido. Não desprezareis Senhor, um espírito humilhado e contrito” diz-nos o Salmo 50.

Alguém me dizia por telefone, com alguma ironia: “Sabes Miguel, creio que o Afonso Costa está a dar voltas no túmulo…” Ao que eu, com manifesta admiração, respondi: “Então porquê?!” O meu interlocutor, com incisiva convicção, respondeu-me: “Porque se ele soubesse que o Vírus iria fechar as portas das igrejas – coisa que ele sempre desejou mas não conseguiu fazer – ao invés de ter nascido humano, teria, se tal pudesse concretizar, nascido um vírus…”. Efectivamente, um inimigo que jurou acabar com a igreja em Portugal no espaço de duas gerações não o conseguiu fazer, mas este ser invisível, baptizado com o nome de COVID-19 conseguiu… Enfim, duros são estes tempos. Ao mesmo tempo, compreendamos que não somos donos e senhores da nossa vida, mas que basta algo infinitesimamente pequeno como um vírus, para acabar com toda a segurança da Humanidade. Por isso, se é certo que devemos confiar em todo o aparato científico e médico para tentar salvar o corpo, mais deveremos confiar a nossa alma nas mãos do nosso Deus e Senhor.

Confiemo-nos, numa altura em que a Igreja Portuguesa prepara-se para renovar a sua consagração a Maria Santíssima, à protecção da Mãe de Jesus e nossa Mãe. Recordemos esta vetusta prece que reflecte bem o coração aflito dos fiéis que a ela recorrem com amor e devoção filial: “À Vossa protecção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades. Mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.” Rezemos esta prece nas nossas casas, com as nossas famílias. Partilhemo-la, e peçamos à Mãe de Jesus que olhe por Portugal e pelo Mundo.

Na qualidade de Pastor das nossas Comunidades de Alvor e da Pedra Mourinha, faço saber que, apesar de ver as portas fechadas dos nossos templos, para grande dor nossa, continuo unido a vós em oração sincera. Aproveito para apresentar os votos de uma Santa Quaresma e peço-vos uma cuidada Quarentena.

O Vosso Pastor:

P. Miguel Ângelo

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